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Vitaminas Hidrossolúveis

31 janeiro de 2022

PROF. DR. FABIO ALVES TEIXEIRA

• Médico-veterinário pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP).
• Residência em Nutrição e Nutrição Clínica de Cães e Gatos pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FCAV-UNESP Jaboticabal).
• Mestre e doutor em Ciências, com ênfase em Clínica Veterinária, pelo Programa de Pós-graduação em Clínica Veterinária da FMVZ-USP.
• Membro do Comitê Pet do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA) e membro fundador da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos do CBNA (SBNutriPet).
• Coordenador do curso de pós-graduação em Nutrição e Nutrologia da Anclivepa-SP.
• Docente do curso de graduação da Faculdade Anclivepa.
• Membro fundador da NutricareVet.
•  Colaborador do Serviço de Nutrologia Veterinária do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (HOVET-FMVZ-USP) e pós-doutorando pela FMVZ-USP.

 

INTRODUÇÃO

As vitaminas são definidas como moléculas orgânicas, diferentes das de proteína, gordura e carboidrato, que o corpo precisa diariamente para realizar as funções metabólicas. O grupo das vitaminas é dividido entre as lipossolúveis – A, D, E e K – e as hidrossolúveis1. Este último grupo é ainda mais amplo que o das lipossolúveis e será o foco deste material, mais especificamente as vitaminas do complexo B tiamina (B1), ribofl avina (B2), niacina (B3), ácido pantotênico (B5), piridoxina (B6), ácido fólico (B9) e cobalamina (B12).

A divisão entre lipossolúvel e hidrossolúvel não traz muita informação quanto à funcionalidade das vitaminas, mas pode ajudar a inferir como é sua absorção intestinal. Enquanto as vitaminas lipossolúveis
são absorvidas junto às gorduras dietéticas, as hidrossolúveis, quando em pequena quantidade na dieta, dependem de transportadores ativo (bombas Na-ATPase). Já com o aumento do seu fornecimento dietético, há transporte passivo pela mucosa intestinal1, o que intensifica sua absorção. No caso da cobalamina, há algumas ressalvas a respeito de sua absorção, que serão comentadas no tópico “Anemia”.

De maneira geral, a quantidade mínima necessária para que o corpo atinja as necessidades dessas vitaminas é baixa, inclusive algumas são expressas em unidades de medida bem pequenas como microgramas. Porém, não suprir essa necessidade resulta em manifestações clínicas da deficiência nutricional1.

De maneira geral, a quantidade mínima necessária para que o corpo atinja as necessidades dessas vitaminas é baixa, inclusive algumas são expressas em unidades de medida bem pequenas como microgramas. Porém, não suprir essa necessidade resulta em manifestações clínicas da defi ciência nutricional1.

A deficiência de vitaminas hidrossolúveis é descrita na medicina veterinária, inclusive em cães e gatos, mas o seu diagnóstico preciso é bem complicado. As formas de diagnóstico envolvem: 1- a mensuração da concentração do nutriente nos fluidos biológicos, como o plasma, ou nos tecidos de reserva, como o fígado; 2- a administração específica da vitamina suspeita de ser a causa da defi ciência nutricional e a mensuração de sua excreção, como um índice de saturação orgânica daquele nutriente; 3- mensuração de determinado componente que dependa desse nutriente para ser metabolizado, ou seja, com a menor disponibilidade do nutriente é esperado aumento na concentração do componente em si, por exemplo o ácido metilmalônico que é marcador do status orgânico de cobalamina; 4- teste de estimulação enzimático antes e após o fornecimento de determinada vitamina, para avaliar o impulsionamento da atividade da enzima. Apesar dessas possibilidades, a mensuração analítica das vitaminas no organismo não é algo disponível para a rotina de atendimento, muitas vitaminas não apresentam sítios de estoque e os outros testes comentados até para pesquisa são difíceis de serem realizados (NRC)2.

Algo um pouco mais prático para fazer o diagnóstico de deficiência de alguma vitamina específica seria
fornecer exatamente aquele nutriente em que se suspeita de deficiência e observar os resultados.
Porém, na prática clínica, isso é pouco factível, devido à dificuldade em suspeitar unicamente de uma vitamina, em encontrar um produto comercial de fácil acesso que contenha o(s) nutriente(s) em concentração adequada e em não fornecer outros tratamentos associados.
Assim, o diagnóstico fica limitado à associação das manifestações clínicas do paciente e, principalmente,
ao histórico nutricional1.

Atualmente, estão sob maior risco de deficiência nutricional, dentre os animais saudáveis, aqueles que
recebem dietas incompletas ou não suplementadas, por exemplo, as alimentações caseiras ou alguma
outra forma de alimentação não convencional, como as vegetarianas as veganas2–4.

Existem diretrizes5,6 sobre a quantidade de nutrientes que devem ser fornecidos diariamente aos cães e
gatos, inclusive quanto às vitaminas hidrossolúveis (Quadro 1). Porém, muitas das pesquisas feitas com
nutrição de cães e gatos em relação à quantidade de vitaminas focaram no entendimento das suas funções e não na necessidade em si5, ou seja, as quantidades recomendadas, com a evolução dos estudos, podem ser modificadas. Vale destacar também que essas recomendações são baseadas em vitaminas de alta biodisponibilidade, isso quer dizer que é importante considerar a fonte das vitaminas. Aquelas oriundas de premixes (mistura de vitaminas e minerais acrescentada na produção dos alimentos comerciais) ou de suplementos de melhor qualidade apresentam alta biodisponibilidade e, diferente do que muitos acreditam, as vitaminas presentes em ingredientes ditos “naturais” podem apresentar menor biodisponibilidade e consequentemente favorecerem a ocorrência de deficiências nutricionais5,7.

O próprio NRC (2006)5 recomenda que, no momento da formulação das dietas, ao utilizar a quantidade
de vitaminas oriundas dos ingredientes, devem-se considerar fatores de correção para a necessidade
mínima estabelecida, de acordo com a disponibilidade dos nutrientes nos diferentes ingredientes. Visto que há pouca informação sobre essa biodisponibilidade da maioria dos ingredientes, principalmente os de uso na alimentação humana, bem como poucos estudos sobre alimentação de cães e gatos, a sugestão do autor, principalmente no caso de formulação de alimentações caseiras, é a suplementação extra de vitaminas hidrossolúveis, considerando pouco da quantidade proveniente dos ingredientes em si, ou apenas nos casos em que sabidamente um determinado ingrediente contem realmente grande quantidade da vitamina. Se o foco desse material fossem outros nutrientes, como as vitaminas lipossolúveis A e D, essa sugestão seria diferente, visto que há maior risco de intoxicação com
esses nutrientes. Entretanto, no caso das vitaminas hidrossolúveis, o risco de intoxicação é baixo, já que há informações de que a ingestão de níveis 10 vezes acima das quantidades recomendadas nas diretrizes
nutricionais seria insuficiente para comprometer a saúde do animal5.


Apesar de o grupo de vitaminas hidrossolúveis ser amplo, há pouca individualização das manifestações
clínicas de deficiência, além de estas não serem especificas para deficiência nutricional, podendo se
confundir com várias outras situações. No quadro 1 é possível observar as principais manifestações clínicas relacionadas à deficiência das vitaminas em foco neste trabalho.

Assim, o tratamento das deficiências de vitaminas hidrossolúveis será baseado no fornecimento da(s)
vitamina(s). Vale lembrar que, na maioria das vezes, quando há deficiência de um nutriente, vários outros
estão com ingestão comprometida, o que deve ser um sinal de alerta para a correção do manejo dietético do paciente como um todo e para a suplementação de vários nutrientes, e não necessariamente só daquele responsável por minimizar determinada manifestação clínica. Assim, muitas vezes, na rotina, quando se desejar aumentar o aporte das vitaminas hidrossolúveis ou fazer a correção dietética, será utilizado um conjunto de vitaminas.

Além da deficiência nutricional em si, há algumas situações clínicas em que vale destacar o papel dessas
vitaminas hidrossolúveis, tanto em conjunto como individualmente.

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