DRA. JULIANA CIRILLO
• Oncologista diplomada pela Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (ABROVET)
• Coordenadora da Supraespecialidade de Nutrição Oncológica da ABROVET
• Médica-veterinária do Setor de Oncologia no E+ Especialidades Veterinárias (São Paulo – SP)
• Responsável pelo Setor de Oncologia do Hemovet – Laboratório e Centro de Hemoterapia Veterinária (São Paulo – SP)
• Professora em cursos de especialização lato sensu em Oncologia Veterinária
• Membro da ABROVET
• Mestre pelo Departamento de Patologia Experimental e Comparada (Laboratório de Oncologia Experimental e Comparada) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP)
• Extensão universitária em Oncologia Clínica e Cirúrgica de Pequenos Animais pela École Nationale Vétérinaire d’Alfort (Paris – França)
• Graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista (UNIP)
INTRODUÇÃO
Os ácidos graxos poli-insaturados da família ômega-3 (AGPIs ω-3), dentre os quais o eicosapentaenoico
(EPA) e o docosa-hexaenoico (DHA), são considerados essenciais, pois não são sintetizados pelo organismo, por isso devem ser consumidos por meio da dieta. Vasta literatura sobre o tema, com ensaios realizados para avaliar humanos, modelos experimentais, cães e gatos, já demonstrou os benefícios para a saúde propiciados pela suplementação com AGPIs ω-3, inclusive com indicação de uso nos quadros de dermatite atópica (DA)1, cardiopatias², doença renal crônica (DRC)3, artrose4,5, doenças neuroinfl amatórias e neurodegenerativas6,7, alterações visuais8-10 e câncer11-13.
A inflamação subclínica é fator etiológico para o desenvolvimento de diversos processos crônicos
degenerativos e sabe-se que pacientes oncológicos apresentam elevação plasmática de citocinas próinfl
amatórias. Essas citocinas estão relacionadas a anorexia, caquexia e progressão tumoral. Inúmeros estudos já evidenciaram que tanto o EPA como o DHA são capazes de inibir diversos aspectos da inflamação, por meio da inibição dessas citocinas14. Além disso, recentes pesquisas atribuem maior
potencial antitumoral ao DHA, por meio de uma série de diferentes mecanismos (Figura 1), o que torna esse nutracêutico um importante aliado no tratamento de pacientes oncológicos. A ação do DHA se deve
principalmente à incorporação desse ácido graxo na membrana celular, na região dos domínios lipídicos,
o que resulta na alteração de sua estrutura, fluidez e função. Assim, o DHA interfere na ativação de receptores e nas vias de sinalização intracelular que regulam tanto a proliferação como a apoptose da célula. Diversas hipóteses, discutidas a seguir, têm surgido para abordar essa temática, dentre elas as que envolvem a supressão da carcinogênese, a redução do crescimento tumoral, a potencialização da resposta à químio e à radioterapia em determinadas neoplasias, além da modulação de mecanismos epigenéticos relacionados ao desenvolvimento e à progressão do câncer11,12,14,16-19,28.
1.Supressão da carcinogênese e redução do crescimento tumoral: a morte celular por apoptose
é essencial para a regulação e a prevenção da proliferação de células mutadas. O DHA é capaz de suprimir a expressão de proteínas antiapoptóticas, como a Bcl-2, o que favorece a morte celular15,16.
Num estudo in vitro que avaliou diferentes linhagens celulares de carcinoma mamário, o DHA promoveu
parada de ciclo celular e apoptose nas linhagens celulares com fenótipo menos agressivo, mas não
naquelas com características mais invasivas, o que indica que sua atuação seja mais efi ciente em
estágios iniciais da carcinogênese17. Já em modelos experimentais, a suplementação com DHA foi capaz
de reduzir lesões pré-neoplásicas induzidas em intestino18.