DR. ALEXANDRE G. T. DANIEL
• ABVS® - American Board Certified Feline Specialist.
• Consultoria e atendimento especializado em Medicina Felina.
• Proprietário da Gattos – Clínica Especializada em Medicina Felina e da plataforma CatExpert®.
• Membro do Cat Friendly Practice® Committee, da American Association of Feline Practitioners (AAFP).
• Academy of Feline Practitioners – International Society of Feline Medicine (ISFM).
As alterações nos níveis de potássio (K) encontramse entre as mais comuns anormalidades eletrolíticas
na medicina veterinária1, com gatos mostrando-se bastante sensíveis em suas variações. A hipocalemia é
mais comum na espécie do que a hipercalemia2.
- Metabolismo do potássio – O potássio é o cátion mais abundante no organismo, com aproximadamente 98% localizado no meio intracelular, sendo que 60-70% disso localiza-se em tecido muscular. A concentração média de potássio intracelular é de aproximadamente 140 mEq/l, valor responsável pela manutenção do volume intracelular. As concentrações médias de potássio extracelular giram ao redor de 4,0 mEq/l1. Sua principal função intracelular é a geração de potencial de membrana, sendo que a hipocalemia causa diminuição na excitabilidade de membrana, fato principalmente evidenciado em musculatura cardíaca e esquelética1,3. A bomba de sódio e potássio (Na+/K+) é a responsável pela entrada de potássio na célula, mantendo as concentrações intracelulares mais elevadas. Diversos fatores influenciam em sua atividade, dentre eles insulina, catecolaminas, aldosterona, osmolaridade plasmática, pH sanguíneo e níveis de magnésio (Mg). O magnésio é um importante cofator para a atividade normal da bomba de Na+/K+, bem como para a reabsorção tubular de potássio. A regulação dos níveis totais de potássio ocorre predominantemente pelos rins. Mais de 90% da excreção total desse mineral se dá por via urinária, e o restante é eliminado por via fecal1.
- Causas comuns de hipocalemia em gatos –As principais causas de hipocalemia em gatos estão
relacionadas à diminuição da ingestão dietética, perda excessiva pela via gastrintestinal (GI) e renal ou alteração na distribuição interna por desequilíbrio ácido-base1,2. Diminuição na ingestão, seja por anorexia ou por formulação alimentar errônea, por tempo prolongado, pode resultar em hipocalemia. Perda de massa muscular importante associada à perda urinária em casos de anorexia também cursa usualmente com a queda dos valores séricos de potássio. O uso de fluidos sem a presença de potássio (como o NaCl 0,9%), por período de dias a semanas (especialmente em animais com doença renal crônica ou com anorexia), também pode resultar em hipocalemia2,4. Os distúrbios ácido-base podem afetar de maneira importante a distribuição de potássio entre o meio intracelular e o extracelular. A alcalemia pode contribuir com a hipocalemia, aumentando a concentração de potássio do meio extracelular para o intracelular, com saída de íons hidrogênio (H+) das células1,2,4. Insulina e catecolaminas promovem captação de potássio para o meio intracelular de tecidos extrarrenais, em especial o muscular e o hepático, o que contribui para a hipocalemia em situações como o feocromocitoma, uso de insulina no manejo do diabetes e da cetoacidos e diabética (a insulina aumenta a atividade da bomba de Na+/K+), bem como na intoxicação por albuterol (estímulo excessivo de receptores ß adrenérgicos com consequente entrada de potássio na célula)1,2,4,5. A perda GI de potássio ocorre comumente em casos de vômito, causa comum na rotina da clínica de felinos. A depleção de cloreto (do conteúdo gástrico) contribui na depleção de potássio e na alcalose metabólica, por aumento da perda urinária de potássio e íons hidrogênio1,4. O excesso de mineralocorticoides também pode cursar com hipocalemia. Embora subdiagnosticado, o hiperaldosteronismo primário, ou síndrome de Conn, é uma endocrinopatia comumente associada à hipocalemia em gatos e importante diferencial no caso de animais que apresentem hipertensão arterial (HA) relacionada ao quadro de hipocalemia6,7.
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